sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SALVE A DELICADEZA
Carolina Cotta
Treze de novembro. Dia Mundial dos Atos de Gentileza. Dia de ceder lugar para o idoso, de dar a preferência para alguém no trânsito, de abrir a porta do elevador para um vizinho. Dia de, principalmente, refletir que gentileza não precisa de data certa para ocorrer. Pelo contrário. Está no cotidiano, nas coisas mais simples e faz bem a quem dá e a quem recebe. Isso é o que defende a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), que no Brasil re-presenta o Movimento Mundial pela Gentileza, criado no Japão em 1996, a partir de constatações cientificas de que a gentileza faz bem também a quem é gentil. As pesquisas de-monstram, por exemplo, que essas pessoas são mais saudáveis e longevas, além de terem relacionamentos melhores e mais duradouros. No trabalho, são mais produtivas e alcançam melhores cargos em suas funções, sucesso e felicidade, consequentemente. Mas o que caracteriza uma pessoa gentil? Segundo Sâmia Simurro, mestre em psicologia e vice-presidente da ABQV, gentileza é um jeito de ser que demonstra uma genuína preocupação com o outro. "A única motivação para ser gentil é um desejo real de ajudar as pessoas e fazê-las se sentirem bem." Para a monja Coen, da Comunidade Zen-Budista ZendoBrasil, gentileza tem a ver com cuidado: "um cuidado com o outro que sou eu". A idéia de que ser gentil é ser amável com o outro ganha aqui novos contornos. "É preciso ser gentil com você, e quando o somos com os outros também estamos sendo conosco." É preciso, entretanto, aprender a ser gentil. Segundo o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade, e mais natural ao homem ser egoísta do que gentil, e isso está diretamente relacionado ao seu desenvolvimento. "Gentileza é algo construído. Não é algo natural. As pessoas gentis sãos as que foram treinadas para isso. Infelizmente, nem todo mundo que foi treinado é gentil." Para o especialista, a verdadeira gentileza não é subserviente, não serve ao outro. É sim uma alegria que temos de reconhecer no outro uma parte de Deus que não está na gente. Mas é pragmática. "Ser gentil atrai gentileza."
Gentileza implica o outro. Isso não se pode perder de vista. Para pensarmos em um mundo mais gentil, a monja Coen, uma das representantes do budismo no Brasil, sugere recuperarmos a percepção de que não estamos sozinhos. Se é agradável ser bem tratado, ouvir um sonoro "seja bem-vindo", o que muitas vezes esperamos que o outro faça, precisamos também começar a olhar para dentro de nós. "Como faço? Como falo? Estou atrapa-lhando alguém?”. Ser gentil envolve amadurecimento, valores e bom senso. O trânsito, um dos principais problemas da vida moderna e palco de tanta intolerância, é um bom espaço para pensar e por em prática atos de gentileza. "Dar passagem para um carro é um ato de gentileza, mas não dá para fazer o mesmo com 10 carros, porque dessa forma se interrompe e prejudica todo mundo que vem atrás de você." O contrário disco é uma atitude egocêntrica, como a do motorista que para em fila dupla e nem olha para trás. E essa sensação de que o mundo está mais violento, intolerante, carente de gentilezas? Citando o Dalai Lama, para quem o ser humano é em si um ser bom, para Coen a gentileza tem algo de essência e da cultura, inclusive da cultura da violência. "Não temos a presa do tigre, e sim dentes de coelhinhos. Não era para sermos predadores como estamos nos tornando. Tem aí algo de cultural, que foi necessário para a nossa sobrevivência. Mas a natureza humana carrega a violência, uma violência trabalhada racionalmente. Daí a beleza da razão humana: podemos usá-la para transformar a fera em um bicho manso, mais gentil."

 

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